Língua Hebraica

O "Recriador" da língua Hebraica

 
     Eliezer Ben Yehuda nasceu na Lituânia, Europa Oriental, e recebeu a mesma educação que toda criança de seu meio. Estudou em uma yeshivá, com o sonho de se tornar rabino, e logo aprendeu o Hebraico dos livros antigos.
      Com todas as mudanças que ocorriam nessa época no contexto mundial, Ben Yehuda começou a interessar-se pelo mundo secular, mudando-se para uma escola russa, onde terminou seus estudos em 1877. Nesta época, foi cativado pelo ideal de restauração e revificação da nação búlgara, concluindo que o Povo Judeu também tinha tal direito.
    Para  Ben Yehuda, os judeus deviam voltar a Eretz Israel, formar uma nação e ter uma língua própria, uma escrita unificadora e esta seria o hebraico. Porém, o hebraico era, até então, um idioma sagrado, usado apenas para estudar e orar. Concluiu que ele mesmo deveria ir a Palestina e começar a pôr em prática seu sonho.
Antes foi a Paris, estudar Medicina, mas foi interrompido, em 1881, ao contrair tuberculose, acelerando seu aliá. Ele se mudou acreditando que seu anseio era algo possível. Quando ainda morava na Europa, decidiu que falaria apenas hebraico com qualquer judeu que conhecesse, e ainda em Paris, em um café, obteve seu primeiro sucesso, conversando com Mordechai Aleman e provando para si mesmo que era possível.
   Ben Yehuda relatou entusiasmado para sua mulher, Débora, uma outra conversa que tivera com o trocador de dinheiro no seu desembarque em Yafo. Aí ele viu que até as pessoas mais simples poderiam conversar em hebraico.
Quando seu filho Ben Zion Ben Yehuda também conhecido como Itamar Ben Avi, nasceu em 1882, fez sua mulher prometer-lhe que ele cresceria sendo o primeiro menino a falar tudo em hebraico. Essa política domiciliar ficou conhecida como o “hebraico em casa”.
    De acordo com Ben Yehuda, este foi um fato muito importante para o futuro da língua hebraica, pois com uma criança em casa que só falava hebraico, os pais e todos visitantes teriam também que falar no mesmo idioma, e assim, quando a criança falasse hebraico por si só, teria sua teoria sido comprovada.
  Itamar Ben Avi, em sua autobiografia, descreve algumas medidas drásticas tomadas por seu pai, muito traumáticas na sua infância. Como por exemplo, se tivessem visitantes em sua casa que não soubessem falar hebraico, seu pai o mandava para o quarto, pois ele não poderia se quer ouvir outro idioma. Ele conta também de um dia que seu pai não estava em casa e sua mãe começou a cantar músicas em russo. Quando seu pai chegou e ouviu a cantoria, que não era em hebraico, gritou e brigou com sua mãe.
    De todos os passos para instaura a língua, o mais importante foi o “hebraico na escola”, quando Eliezer recomendou aos rabinos e professores usar o hebraico como idioma de instrução nas escolas da Palestina, em matérias tanto religiosas quanto seculares.
    Ele foi então convidado a lecionar o idioma hebreu na Escola de Torá e Avodá (Trabalho) da Aliança Israelita Universal, em Jerusálem. Em pouco tempo, seus alunos já conversavam normalmente em hebraico, graças ao seu método de falar livremente e diretamente, ou seja, sem tradução para outras línguas.
     Seu exemplo impressionou professores, mas estes enfrentavam dificuldades como falta de professores, de livros, de terminologias, e assim por diante. “Eram como meio-mudos, falando com as mãos e com os olhos.” Com o tempo, esses problemas foram sendo superados e uma nova e jovem geração que só falava hebraico surgiu e desenvolveu-se.
    Além de ensinar jovens, Ben Yehuda queria também ensinar aos adultos, e por isso passou a publicar seu próprio jornal, HaTzvi, 1884. Escrito todo em hebraico, continha tópicos de interesse do povo que morava na Palestina, incluindo notícias internacionais e locais, como tempo, moda, etc. O jornal era também utilizado para introduzir novas palavras, que não existiam no hebraico antigo, entre elas “jornal”.
    Outra criação de Ben Yehuda em prol do desenvolvimento do hebraico foi o “Dicionário Completo do Hebraico Antigo e Moderno”. Ele começou a montá-lo para uso próprio em Paris, como guia para auto-ajuda, porém concluiu que seria bom publicar a obra para ajudar a todos que tinham o mesmo problema que ele: falta de vocabulário. O dicionário, de 17 volumes, só pôde foi concluído após sua morte, por sua segunda esposa e seu filho. Esse é, ainda hoje, o único dicionário na lexicografia hebraica.
    O ideal de Ben Yehuda recebeu grande ajuda da grande massa de judeus que chegaram a Palestina no mesmo ano em que ele, 1881. Parte significativa desses imigrantes eram como ele: jovens, educados e idealistas. Eles receberam suas idéias e muitos já estavam prontos para falar hebraico quando chegaram, transmitindo-o às crianças em casa, nas creches, nas escolas.   Assim, entre 1881 e 1921, era formada uma massa jovem e fervente de faladores da língua hebraica, com o hebraico como único símbolo do nacionalismo lingüístico.
    Esse fato foi reconhecido pelas autoridades britânicas, que reconheceram em 1922 o Hebraico como língua oficial dos judeus da Palestina. Um mês depois, Ben Yehuda faleceu de tuberculose.
    Bem antes de morrer, Eliezer escreveu em seu jornal, HaTzvi, em 1908:
    “Para tudo é preciso apenas um homem em crise, inteligente e ativo, com iniciativa para devotar toda sua energia nisso, não importando o processo, nem todos os obstáculos no caminho. Em todo novo invento, em todo passo, mesmo o menor deles, o processo necessita ter um pioneiro, quem lidera o caminho sem deixar nenhuma possibilidade de voltar atrás”.
     Segundo o historiador Cecil Roth: “Antes de Ben Yehuda, os judeus podiam falar hebraico. Depois dele, o fizeram.” Sem dúvida, para a revificação da língua hebraica, aquele pioneiro foi Eliezer Ben Yehuda.
(Fonte: http://www.chazit.com/cybersio/biografias/pensadores/benyehuda.html)